Wanna see my pussy (cat)?
Já tenho a vossa atenção???
Óptimo.
Pronto, era só isto. Boa noite.
Nah, just kidding...
Aos sábados, uns quantos malucos ocasionalmente juntam-se pela tarde para beber umas minis (a pensar em gajas), falar de assuntos super complexos (mais gajas) e dissertar sobre seres de inteligência suprema (novamente gajas...).
Lá foi a tríade (eu, o L. e o J.) ter com o quarto cavaleiro do apocalipse (o P.) a sua casa. Lá chegados, a tradição do costume. Entrar pela porta dentro, ir ao frigorífico tirar uma cerveja e ir para a sala sentarmo-nos no sofá para palrar umas horitas. Mas a tradição hoje foi quebrada.
Ainda ia eu a caminho do frigorífico quando ouço uma voz a dizer "pá, tens uma coisa felpuda estendida no teu sofá!!!"
- É a minha gata, pá!!! Agora sou dono de uma adorável gata!!! - disse o P.
Fui ter com ele com ar pesaroso e disse-lhe...
- Ouve...O teu cágado fugiu quando tinhas quatro anos. O teu hamster afogou-se no aquário do teu peixinho dourado que por sua vez morreu estendido na carpete da tua sala quando tinhas 8 anos. E não nos vamos esquecer que és a única pessoa que conheço que teve um papagaio que fez um voto de silêncio... Já consideraste que talvez (e estou a colocar ênfase no talvez) não sejas uma daquelas pessoas que se dê bem com animais? Just sayin'...
- Não. Ela é adorável. Vais ver que nos vamos dar lindamente. - disse ele com um sorriso nos lábios.
- Se ela não se suicidar primeiro... - disse o J.
A bem da verdade, já não víamos o gajo tão animado desde que Moisés separou as águas do Rio Jordão portanto achámos que mal não lhe podia fazer. O receio era mais pelo bem estar físico da gata que por ele.
A tradição era o pessoal sentar-se no sofá. Mas com uma gata estendida feita carpete em cima dele era um bocado difícil. Ficámos 3 gajos adultos a olhar uns para os outros.
- Bem, alguém vai ter de ir ali e explicar-lhe as regras da casa... - disse o J.
- Pois... - disse eu.
- É bem visto. - disse o L.
E assim se passaram cinco minutos em absoluto silêncio a ver quem era o pobre diabo que tomava a infeliz decisão.
- Porra, tá bem. Eu vou lá... - disse.
- És um gajo de coragem, pá! - disse o L.
- Espera, espera!!! - gritou o J.
- Que foi agora? - perguntei.
- Tens algumas últimas palavras que queiras gravadas na tua lápide? - perguntou ele a rir descontroladamente.
- Tenho. Vai-te f*der... - enquanto lhe estendi um dedo.
- Hum...Esse mau feitio não te vai atrair muitas viúvas... - disse ele.
E lá fui eu, qual condenado a caminho da cadeira eléctrica. Dei a volta à sala, olhei para a gata de todos os ângulos possíveis e imaginários e a tentar perceber como é que raio ia pegar nela, tirá-la dali e colocá-la noutro sítio.
- Então, demoras muito? A cerveja está a ficar quente... - disse o L.
- Ouve, a gata não é um bibelot, porra. Se te achas capaz de fazer isto melhor, força.
O L. avançou determinado, ia para pegar na gata pelo lombo quando ouviu pela primeira vez o rosnar da bicha...Sabem, aquele rosnar que soa a um uivo de lobisomem tipo "tira a mão daí se queres manter os cinco dedos". O L. deu um pulo para trás e estatelou-se no chão.
- Ó P.!!!! Chega lá aqui!!! - gritei.
- Que foi? Que é que foi esse barulho? - perguntou ele enquanto entrava na sala.
- Olha, tenho três notícias para ti. Uma boa e duas más. Quais queres ouvir primero? - perguntei.
- A boa.
- A boa é que o L. espalhou-se ao comprido e encerou-te o chão.
- E as más?
- As más? A primeira é que não viste. A segunda é que a tua gata não é uma gata...
- Porra, é um gato???
- Não é uma loba da malcata!!! Ia arrancando a cabeça ao L...
- Tás louco. Ela é tão dócil...
E dito isto, a bicha acordou...Abriu os olhos, espreguiçou-se e ficou ali. A olhar para nós os quatro. Fiquei com a nítida sensação que ela avaliou cada um de nós e depois olhou para o P. como que a perguntar "olha lá, quem são estes m*rdas e o que é que eles querem do meu sofá?". E depois desceu do sofá e encaminhou-se para a porta...A porta onde nós estávamos! Afastámo-nos em silêncio para dar passagem à sua alteza gateza e lá foi ela à cozinha.
- Bem, se calhar é melhor ir ver o que ela foi fazer... - disse o P.
Aproveitámos a deixa e sentámo-nos no sofá. Estávamos nós a começar a entrar no modo relax entra novamente o raio da gata na sala. Mas desta vez sentou-se mesmo em frente a nós. Portanto, imaginem a cena. Três homens adultos sentados num sofá de três lugares com as costas encostadas atrás e uma gata a cerca de 50cm sentada a observar e a rosnar baixinho.
- F*da-se, isto parece os almoços em casa da minha sogra... - disse o J.
- A tua sogra rosna? - disse o L.
- Pior. Ladra...Tem ar de dobermann... - retorquiu o J.
Ó P.!!!! PÊ!!!!!! Porra, anda cá, pá!!! - gritei.
O P. à medida que vinha para a sala, a gata afastou-se para um canto da sala com ar mais fofinho deste mundo e do outro. Quando ele entrou, olhou para ela e disse...
- Ai, coisinha mais linda do papá. Quem é a coisinha mais linda do papá? Cutxi cutxi cuuuu.... - enquanto lhe fazia festinhas na barriga.
- Hã... P.... Acho que deves considerar seriamente procurar o contacto de um exorcista... A tua gata faz-me lembrar um filme do Stephen King. - disse-lhe com ar muito sério.
- Esta fofura? Ela lá faz mal a uma mosca...
- Amigo, sério...Não durmas com a porta do quarto aberta... Ou então, compra uma calibre 44, just in case...
Saímos de surdina e fomos para a cozinha respirar...de alívio! Estávamos vivos!!!
Lá conseguimos beber a mini descansados e a tarde terminou mais cedo devido a imprevistos. Despedimo-nos do P. e uma vez deixámos o aviso sobre a possível possessão demoníaca da sua adorada gata ao que ele respondeu...
- Já te disse, a bicha é dócil não faz mal a uma mosca...
Enquanto saíamos, olhei de soslaio para a sala e para a gata que mastigava alegremente alguma coisa verde...Depois é que vi bem!!!
- P... É só para te informar que a tua gata que não faz mal a uma mosca está na tua varanda e acabou de comer uma varejeira king size. Beware, my friend... - disse-lhe.
Eu, o L. e o J. já combinámos. Da próxima vez, trazemos coletes à prova de bala e armaduras Louis XV. Porra!!!